Na psicanálise, o superego é a estrutura que representa a Lei, moldando nosso senso de certo e errado. Ele nasce na infância, quando a criança percebe que não pode ter tudo o que deseja. Surge uma figura – muitas vezes o pai, mas pode ser qualquer coisa que "roube" a atenção da mãe, como um trabalho ou outro interesse – que introduz a ideia de limite.
É na falta, na impossibilidade de ter tudo, que a Lei se forma. A criança introjeta essa Lei, criando o superego, que a ajuda a lidar com os "nãos" do mundo.
O superego ensina a criança a negociar com as faltas da vida. Para garantir afeto, alimento e cuidado, ela aprende a se adaptar às regras da família. Ameaças como "se não se comportar, não ganha sobremesa" reforçam esse pacto: obedecer para acessar o prazer. Essa dinâmica molda o superego, que passa a regular o comportamento mesmo na ausência dos pais.
Na vida adulta, o superego ganha sofisticação. Escola, religião e trabalho trazem novas figuras de autoridade, ampliando as noções de certo e errado. Apesar dessa evolução a forma que a pessoa lida com a lei ainda é baseada nas experiências da infância.
Para Freud, o superego reprime o desejo: quanto mais buscamos aceitação, mais sacrificamos nossos impulsos. Isso pode levar ao adoecimento, quando o sujeito se anula para atender ideais impossíveis, como ser o "cidadão exemplar" ou a "mãe perfeita".
A culpa surge porque o superego nunca está satisfeito – ele cobra a perfeição tiranicamente.
Na visão de Lacan, o superego é ainda mais complexo. Ele não só reprime, mas também exige o "gozo", um prazer excessivo que gera angústia. É uma voz inconsciente que comanda obediência cega às normas sociais, deixando o sujeito frustrado e incompleto ao falhar em atendê-las.
Quando saudável, o superego é essencial: mantém a sociedade funcionando e nos ajuda a conviver de forma civilizada. Mas, quando tirânico, pode aprisionar. A psicanálise oferece um caminho para transformar essa voz opressora em um guia equilibrado, promovendo autoconhecimento e liberdade.